“VOU EMBORA” – EMPRESÁRIO ESTABELECIDO HÁ 15 ANOS EM PALMA QUEIXA-SE DA FALTA DE SOLIDARIEDADE PERANTE INSURGÊNCIA

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O proprietário da empresa Reef Investimentos, no distrito de Palma, em Cabo Delgado, Zvika Karadi, lamenta a falta de solidariedade de quem de direito, face à situação de terror vivida no distrito de Palma, desde os ataques ocorridos a 24 de Março.

Karadi relata que, no dia em que ocorreram os ataques encontrava-se a gozar férias, fora de Moçambique, tendo cancelado e regressado para o país logo que recebeu informações sobre o sucedido.

“Liguei para muitas pessoas a pedir ajuda e ninguém se prontificou em responder. Lamento que o mundo esteja calado face a situação de Palma, ninguém faz algo concreto, como se nada estivesse a acontecer e isso é o que tem aumentado a dor. Fiquei cansado e já pus a minha empresa para vender… vou embora”, lamuriou.

Karadi junta-se, assim, a várias outras empresas que tomaram decisões extremas, quer pelo encerramento definitivo, quer pela colocação à disposição para a venda, em reação aos ataques terroristas.

O empresário que já se encontra no país há 15 anos, conta que fundou a Reef Investimentos há uma década, tendo criado mais de 140 postos de trabalho.

“Comecei com apenas três máquinas pequenas e antigas. Hoje temos mais de 100 máquinas, incluindo camiões. Para chegar a esses resultados fiz investimentos atrás de investimentos e alguns suscitaram empréstimos bancários, pela confiança na actividade económica que se vinha desenvolvendo mais a cada dia, tanto em Pemba, como em Palma”, narrou.

Da incursão dos insurgentes, Karadi reporta prejuízos avaliados em mais de 700 mil dólares.

“Eles atacaram a nossa empresa, incluindo as nossas acomodações, com mais de 40 quartos, dispararam vários tiros com armamento pesado e atearam fogo, queimando tudo que está no acampamento, incluindo vários carros e camiões”, contou, destacando a ausência de vítimas humanas.

Depois do contributo dado para o desenvolvimento da província de Cabo Delgado, em particular do distrito de Palma, Karadi diz-se desanimado, pois tem notado constância de fenómenos conducentes ao atraso do progresso económico da região.

“Sempre andamos dois passos para frente e quatro para trás, dessa forma não há desenvolvimento possível”, afirma.

Além dos prejuízos estimados, o empresário reporta dívidas com o banco, contraídas para a compra de equipamentos.

“Comprei agora 10 camiões basculantes na China e paguei 30% do valor total. Agora que o camião está para sair da China para Moçambique, exigem o valor remanescente e não sei o que fazer, pois por um lado o dinheiro não está disponível e, por outro, não terei como operar os camiões numa zona instável”, presume.

Zvika Karadi partilhou a sua história com a Voz do Empresário na esperança de que quem de direito a oiça e tome uma atitude para alterar o cenário.

“Não quero falar mal de ninguém, mas alguém precisa travar as mortes de pessoas inocentes que nunca fizeram mal a outrem, só vieram trabalhar. Nós não tínhamos um país de guerra. Quando cheguei a Moçambique, andei de Pemba para Palma, à noite, sem nenhum problema e nunca tinha medo. Agora não há diferença entre dia e noite, o medo está sempre presente”, frisou.